Quem treina há um pouco mais de tempo, com toda a certeza já amaldiçoou o ácido lático, pelo menos uma vez. A sensação de queimação que ele causa é digna de lágrimas em alguns casos e se isso já não bastasse, ele ainda é acusado injustamente, pelas dores musculares que aparecem algumas horas depois do final do treino. Se ele fosse uma pessoa, pode ter certeza que o ácido lático concorreria ao título de maior injustiçado. Vou explicar neste artigo o porquê!
Diferença entre ácido lático e lactato
Antes de tudo, precisamos diferenciar o ácido lático do lactato. O lactato é uma fonte energética, usada em atividades intensas e que é resultado da não utilização de piruvato, um produto da glicólise anaeróbica. Já o ácido lático é resultado de uma série de reações e só é produzido em situações específicas. O lactato, por sua vez, é produzido de maneira quase constante e não causa a sensação de fadiga e queimação, conforme muitos acreditam. Mas o enfoque aqui é o ácido lático, então vamos lá!
Ácido lático, quem é, como vive e o que faz
Antes de falarmos mais especificamente do ácido lático, precisamos voltar às aulas de química do ensino médio e lembrar o que são ácidos. Para ser considerado um ácido, uma molécula precisa liberar íons de hidrogênio na solução em que se
encontra. No caso do ácido lático, é no sarcoplasma ou interior da célula muscular. Com esta liberação de íons de hidrogênio, temos uma considerável diminuição do Ph e aumento da acidose. Desta maneira, o que de fato causa a
acidose e que vai causar a tal sensação de queimação, não é o ácido lático em si, mas sim a liberação dos íons de hidrogênio.
Hashimoto e Brooks (2008) descrevem que o transporte do lactato para o meio extra-celular é uma forma de tamponar os prótons produzidos durante o exercício. Sabendo disso e apoiados em diversos novos estudos, os autores defendem que o lactato produzido durante o exercício em um determinado sítio serve como esqueletos de carbono para a oxidação e a gliconeogenese (geração de novas moléculas de ATP, através da glicose).
Eu poderia vir aqui e trazer para vocês uma série de acontecimentos bioquímicos, que mostram que não é o ácido lático o principal causador da queimação e da fadiga em exercícios intensos, mas sim os íons de hidrogênio que são liberados
por ele. Mas isso, de pouco agregaria de valor e tornaria o entendimento deste artigo mais difícil.
O que a ciência vem mostrando (Machado, 2008) que até a própria formação do ácido lático em atividades intensas pode ser questionada. Existem evidência de que este ácido não teria a devida repercussão bioquímica pela qual se acreditou até
os dias de hoje. O que já é sabido, é que o ácido em si, não promove a tal sensação de queimação que nós, praticantes de musculação, sentimos constantemente.
Não se espantem com isso, pois esta é uma nova corrente científica, que vem mostrando em diversos estudos suas afirmações. Eu mesmo, até não muito tempo atrás, acreditava que era o ácido lático em si que produzia tal efeito.
Mas é importante saber que de maneira geral, o ácido lático e principalmente o lactato, são importantes para qualquer tipo de treinamento mais intenso, pois eles são resultados de reações que geram energia. E como já mencionei, a ciência vem
mostrando que a fadiga não é causa pelo ácido lático, mas sim por uma série de reações que são desencadeadas pela liberação dos íons de hidrogênio.
Então, da próxima vez que você quiser amaldiçoar o ácido lático em seu treino, lembre que o culpado pela dor e pela queimação, são os íons de hidrogênio que estão caindo na corrente sanguínea.
Não é o lactato e muito menos o ácido lático que causam a dor muscular que você sente algumas horas após o final do treino.
O excesso de ácido lático é totalmente removido de seu corpo em no máximo 2 horas depois do treino, portanto, seria impossível ele causar tais dores. Elas são causadas pelos processos celulares de cicatrização das microlesões do treino.
Lembre-se de tudo isso quando for “detonar” o ácido lático. Bons treinos!
Fonte: Treino Mestre